Ulisses e o drama do retorno:entre a glória e o cotidiano
- Livraria Candeeiro
- há 2 dias
- 7 min de leitura

Mediação e curadoria:
Michael Lima
Vamos ler, reler e nos perder com Ulisses. Do canto das sereias às armadilhas do ego, passando por exílios, astúcias e reencontros. O curso mistura leitura compartilhada, mitologia, filosofia e vida. Tudo com café, candeeiro aceso e escuta atenta.
Data: 4 encontros em OUTUBRO/2025 nos dias: 07/10, 14/10, 21/10 e 28/10 | TERÇAS-FEIRAS
Horário: das 19h às 21h
Local: Presencial na Livraria Candeeiro R. Dr Vieira Bueno, 170 | Cambuí - Campinas, SP
Valor total do curso: 4x de R$125,00 (no crédito)
ou R$500,00 (à vista)
Ementa do curso:
Motivação / Justificativa
Este curso nasceu de uma inquietação simples e profunda: por que é tão difícil voltar? Voltar para casa. Para o corpo. Para a vida comum.
Ao seguir os passos de Ulisses, o herói da Odisseia, percebemos algo
perturbador: talvez ele nunca tenha querido, de fato, retornar. Sua jornada é longa não só por causa dos mares ou dos monstros, mas porque há uma força interna que resiste ao cotidiano. E essa força não é só dele — é nossa também.
Vivemos em uma cultura que idolatra a conquista, a imagem, a produtividade.
Como diz Byung-Chul Han, fomos seduzidos por um modelo de sujeito que não para, não escuta, não habita. Um sujeito cansado, mas sempre ativo. Forte por fora, esvaziado por dentro.
Ulisses e o drama do retorno propõe uma travessia simbólica: não a jornada de quem busca glória, mas de quem busca reencontro.
Reencontro com aquilo que ficou para trás — não como passado nostálgico, mas como vida possível.
Ulisses é um espelho do nosso tempo. Seus monstros são os nossos vícios.
Suas ilhas são nossas distrações. Seu retorno, o nosso maior desafio.
Fundamento Teórico e Simbólico A Odisseia, atribuída a Homero, não é apenas um poema épico. É um mapa simbólico da experiência humana diante do tempo, do desejo e do medo. A jornada de Ulisses é ao mesmo tempo física e existencial — atravessa mares e tentações, mas também memórias, recusas e silêncios.
Neste curso, tomamos a Odisseia como texto fundador e Byung-Chul Han
como lente contemporânea. Cada encontro propõe um diálogo entre um
episódio da jornada de Ulisses e uma obra de Han, a fim de pensar como os dramas do retorno se atualizam na era do desempenho, da exposição, do esvaziamento do eros e da perda da beleza.
Ulisses e o drama do retorno: entre a glória e o cotidiano 1 Autores como Arendt, Freud, Lacan, Weil e Butler também aparecem como vozes complementares — mas é Han quem caminha conosco, lado a lado com Ulisses, nesta travessia.
Homero encontra Byung-Chul Han.
Este curso é uma travessia entre dois tempos.
Homero representa o mito, o símbolo, a narrativa da origem.
Han representa a crítica do presente, a crise do sujeito moderno.
De um lado, a saga de Ulisses: herói que enfrenta monstros, ilhas e deuses, mas cuja maior luta talvez seja contra o retorno.
De outro, a análise de Han: um mundo em que os monstros vestem a roupa da produtividade, do excesso de positividade, da transparência total — um mundo onde o lar é perdido porque o silêncio se tornou insuportável.
Ao colocar esses dois autores em diálogo, o curso revela uma continuidade simbólica: os dilemas de Ulisses não morreram com os gregos — eles apenas mudaram de forma. A glória virou desempenho. As sereias viraram distrações digitais. A Ítaca virou um lugar que ninguém mais sabe habitar.
A proposta, então, é escutar os ecos entre Homero e Han, para entender o que nos impede, ainda hoje, de voltar para casa.
Intenções Formativas Mais do que ensinar mitologia ou filosofia, este curso deseja abrir espaço.
Espaço de escuta, presença e elaboração.
A intenção é que cada participante se reconheça em certos desvios, encante-se com certas ilhas, confronte seus monstros e, talvez, reencontre sua própria Ítaca. A jornada é coletiva, mas a travessia é íntima.
A proposta é que, a cada encontro, possamos:
Cultivar a escuta e a lentidão;
Questionar o ideal de vida produtiva e esvaziada;
Redescobrir o valor da repetição, da casa, do vínculo e do silêncio;
Encontrar sentido onde o mundo só oferece estímulo.
O retorno — esse verbo difícil — será nosso tema central.
Mas não como nostalgia, e sim como coragem:
Ulisses e o drama do retorno: entre a glória e o cotidiano 2 a coragem de habitar a própria vida com dignidade.
Estrutura e Trilha do Curso
O curso está organizado em quatro encontros, cada um inspirado em uma etapa da jornada de Ulisses. Cada dia propõe um mergulho simbólico a partir de um episódio da Odisseia, em diálogo direto com uma obra de Byung-Chul Han, experiências contemporâneas e reflexões íntimas. O objetivo é construir, a cada encontro, um espaço de escuta, elaboração e partilha.
1o Encontro – 07/10 – A partida: a glória como exílio
Obra em diálogo: Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han
Tema: O desejo de conquista, o abandono de Ítaca, o mito da glória.
Questão norteadora: O que deixamos para trás em nome da vitória?
Experiência proposta: Pensar a cultura da produtividade como um novo tipo de guerra — silenciosa, diária, íntima. Questionar o modelo de vida que nos exige estar sempre além de nós mesmos.
Reflexão prática: Quais são as “Troias” que eu busquei? O que abandonei para conquistá-las?
2o Encontro – 14/10 – As ilhas: desejo,fuga e encantamento
Obra em diálogo: A Agonia do Eros, de Byung-Chul Han Tema: As figuras que seduzem e atrasam Ulisses: Calipso, Circe, Sereias.
Questão norteadora: O que nos impede de voltar para o que realmente
importa?
Experiência proposta: Identificar os encantamentos que nos distraem:
relações que não se concretizam, vícios emocionais, a busca por novidade como forma de fuga.
Reflexão prática: Como eu fujo do cotidiano? Que formas de prazer me
mantêm longe da vida que desejo viver?
3o Encontro – 21/10 – Os monstros: medo, excesso e autossabotagem
Obra em diálogo: A Sociedade da Transparência, de Byung-Chul Han
Tema: Os obstáculos que ameaçam o retorno: Cila, Caríbdis, Polifemo.
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Questão norteadora: Quais forças em mim me desviam de mim?
Experiência proposta: Reconhecer os monstros que habitam a travessia: ansiedade, compulsão, rigidez. Enfrentar o que nos paralisa ou nos cega.
Reflexão prática: Que hábitos, padrões ou pensamentos me fazem girar em círculos? O que em mim ainda luta contra o retorno?
4o Encontro – 28/10 – Ítaca: o retorno como reconstrução
Obra em diálogo: A Salvação do Belo, de Byung-Chul Han
Tema: A chegada de Ulisses, o reconhecimento, a casa transformada.
Questão norteadora: O que é preciso perder para poder voltar?
Experiência proposta: Pensar a chegada não como um final, mas como início.
O reencontro com quem se ama, com quem se foi, com quem se pode ser.
Reflexão prática: Qual é a minha Ítaca? Que tipo de vida quero sustentar? O que estou pronto para reconstruir?
Materiais Complementares Oferecidos
Para aprofundar a experiência de cada encontro, o curso oferece uma
curadoria cuidadosa de materiais simbólicos, poéticos e filosóficos. Estes materiais não são obrigações, mas convites. Eles ampliam o curso para além das conversas, permitindo que cada participante construa sua própria travessia.
1. Livreto de aprofundamento autoral (por encontro)
A cada encontro, os participantes receberão um livreto impresso , escrito especialmente para o curso, com reflexões ensaísticas, referências simbólicas e provocações existenciais relacionadas ao tema do dia.
São textos autorais, com linguagem acessível e poética, que funcionam como extensão viva da experiência — para ler com calma, grifar, reler e levar consigo.
2. Trilha de leitura
Ao longo do curso, serão indicados trechos de obras literárias, filosóficas e mitológicas que dialogam com os episódios da Odisseia e os dilemas da vida contemporânea. São leituras breves, bem escolhidas, com profundidade e clareza.
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3. Trilha de escuta e sensibilidade
Cada encontro será acompanhado de uma pequena curadoria sensível:
músicas, poemas, imagens ou práticas de atenção. Estes materiais
funcionam como memória simbólica da travessia — pequenos gestos para
carregar durante a semana.
4. Exercícios simbólicos
Ao final de cada encontro, serão propostos pequenos exercícios de escrita ou contemplação. Não são tarefas escolares, mas chamados íntimos, convites a nomear aquilo que ainda não teve palavra, a reconhecer sombras, desejos e reencontros.
Público-Alvo e Linguagem Adotada
Este curso é voltado para pessoas que sentem que algo se perdeu no caminho — e que desejam pensar, com calma e profundidade, o que significa voltar a si, aos vínculos e à vida comum.
É um curso para quem se interessa por mitos, literatura, filosofia, afetos e pelas perguntas que não cabem em respostas rápidas. Não é necessário ter formação acadêmica, nem leitura prévia da Odisseia ou dos autores em diálogo. Basta disposição para escutar, refletir e se deixar atravessar.
A linguagem do curso é clara, sensível e rigorosa. Não há jargões nem fórmulas
prontas. As referências teóricas são apresentadas como chaves de leitura, não como muros. Cada encontro é uma conversa aberta, construída a partir da escuta e da presença de quem está ali.
Mais do que um curso, esta é uma experiência de elaboração. Uma pausa com sentido. Um espaço para habitar perguntas difíceis com delicadeza e coragem.
Materiais Necessários para o Aluno
Este é um curso de travessia simbólica e reflexão pessoal. Por isso, os materiais necessários são simples, mas essenciais:
Caderno ou papel avulso, para anotações, escritas simbólicas e exercícios propostos ao final de cada encontro;
Caneta ou lápis, conforme sua preferência de escrita;
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Quem preferir, pode usar tablet ou notebook para acompanhar os
conteúdos e fazer suas anotações;
Recomendamos também que o aluno tenha consigo os livros-base do
curso (Odisseia e as obras de Byung-Chul Han), para acompanhar as
leituras indicadas.
O mais importante é que você traga sua presença, sua escuta e a disposição para se deixar tocar pelas perguntas. O resto é travessia.
Sobre o mediador:
Filósofo do direito, professor e contador de histórias. Gosto de pensar junto, provocar perguntas e caminhar com quem busca sentido nas palavras. Falo de Ulisses, mas também de nós — que seguimos navegando entre mapas, monstros e memórias.
Contato:
Instagram: @profmichaellima Newsletter: Círculo Dialético
Bibliografias:
(10% de desconto nas compras dos livros na Candeeiro)
Bibliografia Básica (obrigatória)
HOMERO. Odisseia. Tradução de Frederico Lourenço. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.
HAN, Byung-Chul. A Agonia do Eros. Petrópolis: Vozes, 2017.
HAN, Byung-Chul. A Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.
HAN, Byung-Chul. A Salvação do Belo. Petrópolis: Vozes, 2019.
Bibliografia Complementar (opcional)
HOMERO. Odisseia. Tradução de Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34,
2021.
HAMILTON, Edith. Mitologia: Contos Imortais de Deuses e Heróis. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2021.
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