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A arte do haicai

  • Foto do escritor: Livraria Candeeiro
    Livraria Candeeiro
  • 25 de jun.
  • 5 min de leitura


Mediação e curadoria:

Paulo Franchetti


O que é o haicai? Por que tanto interesse no haicai? Nesta oficina aprenderemos um pouco da história do haicai e da sua apropriação pelo Ocidente. Só se aprende fazendo: produção e comentário de haicais (atividade necessária).

Conteúdos principais do curso:

O haicai no Japão: os principais poetas. O haicai no Ocidente: Blyth, Watts, Guilherme de Almeida, Millôr, Leminski. Haicai e zen. Haicai como caminho de vida. A técnica do haicai. O poema coletivo. Haicai e imagem. A prática do haicai.


Data: 3 encontros em AGOSTO/2025 nos dias: 05/08, 12/08, 19/08 | TERÇAS-FEIRAS

Horário: das 19h às 21h

Local: Presencial na Livraria Candeeiro R. Dr Vieira Bueno, 170 | Cambuí - Campinas, SP


Valor total do curso: 3x de R$180,00 (no crédito)

ou R$540,00 (à vista)




Apresentação:

A arte do haicai


Haicai é um tipo de poesia que se aproxima das artes tradicionais japonesas num aspecto relevante: tem um caráter de exercício, aprendizado, conversa, construção coletiva.


Não é muito comum um poeta enviar poemas para outro e pedir palpites. E quando isso acontece, pouca gente tem a coragem de fazer o que Pound fez com “The Waste Land” – e menos gente ainda tem a humildade de fazer como Eliot, ao receber o seu poema todo cheio de rasuras e palpites. 


Mas em haicai isso, por assim dizer, faz parte do jogo.


Por exemplo: um amigo me pediu um palpite sobre um seu haicai. Este:


mar de cana verde

- sob um céu azul sem manchas

outonal Mogiana.


 Propus então duas versões, tentando alterar o mínimo e operando principalmente por supressão e inversão da ordem das palavras:


Sobre um mar de cana,

O céu sem manchas -

A Mogiana no outono. 


Outono na Mogiana:

Sobre o mar de cana,

Um céu sem manchas.


E por que fiz isso?


Bom, eu achei que os adjetivos, embora acrescentando cores, diminuíam a carga sensória das imagens. Olhando o resultado, pareceu-me que em nenhuma das versões eles de fato fizeram falta.


Mantive a metáfora do mar, porque não me pareceu excessiva. Ou seja: é quase um lugar comum, não chama muito a atenção sobre si mesma.


Mas inverti a direção do olhar. Em vez da descrição estática (isto sob aquilo), preferi um pouco de dinamismo (sobre isto, aquilo). Porque quando digo “isto – sob aquilo”, a segunda parte termina por ter um valor quase adjetivo (não sei explicar melhor essa sensação); já quando digo “sobre isto, aquilo”, há um mínimo suspense e nenhuma parte da frase parece qualificar a outra.


Do ponto de vista da construção da imagem, da apresentação dos elementos, a diferença entre as duas propostas é basicamente a ordem. Na primeira, a cana e o céu são apresentados ao leitor e depois vem a região e a estação. Na segunda, vem primeiro a estação e depois a cana e o céu.


Na primeira, então, o poeta organizaria a percepção, enquadrando-a no último verso; na segunda, os elementos naturais apareceriam como “provas” ou tradução sensível do que se diz no verso inicial. 


Ou seja, na primeira o poeta perceberia a cena, registraria os elementos sensíveis, e depois a explicaria, situando esses elementos no quadro sazonal, como quem diz: “Vejam essas coisas, isso mostra que estamos no outono nesta região”. Nesse sentido, talvez fosse melhor suprimir a palavra Mogiana, deixando como último verso isto apenas: O outono chegou! 


Já no segundo caso, o poeta “definiria” o outono na região da Mogiana por meio de algo observado objetivamente, como quem diz “Isto é o outono nesta região: uma grande plantação de cana e um céu sem nuvens ou sem poluição”. 


As outras modificações, isto é, a comutação de artigos indefinidos e definidos, se explicam pela mudança da perspectiva. 


Meu amigo achou boas as sugestões, mas disse que tinha feito um esforço para manter a métrica. Já eu, embora nada tenha contra a métrica, não me importo muito com ela e estou sempre disposto a sacrificá-la em benefício da economia, da naturalidade da expressão e do sabor de haicai.


Numa oficina de haicai, esse tipo extenso de comentário não cabe. É muito teórico. Diz respeito só aos parâmetros de ação de quem conduz a oficina. 


Na prática, a conversa seria mais simples: uma pessoa apresentaria um haicai; a outra pessoa – se achasse que poderia “tornar o haicai mais haicai” – proporia uma ou mais versões alternativas, até que a primeira pessoa dissesse “era isso mesmo que eu queria dizer!”, ou então: “entendi!”, ou, mais raramente: “prefiro ficar com a minha versão” por este ou aquele motivo. E em qualquer dos casos, a segunda pessoa diria: “ótimo, tudo bem!”.


E pode mesmo ocorrer que toda a ação da segunda pessoa esteja equivocada. Nem por isso deixa de haver aprendizado de ambas, e principalmente das demais pessoas que assistem à conversa ou participam dela, se se tratar de uma oficina nos moldes tradicionais.


E aqui está: para quem me perguntou como será a oficina do segundo semestre, essa longa postagem deve ser útil, pois pode ajudar a imaginar a forma de operar e de conduzir a atividade.




Ementa do curso:

Primeiro encontro: 

  • O haicai – primeiro contato – uma antologia

  • O haicai no Ocidente 

  • O ideograma – Fenollosa e Pound

  • O zen – Suzuki, Watts, Blyth

  • O haikai no Brasil – Guilherme de Almeida, Millôr, Leminski, Teruko Oda

  • Orientação para os exercícios



Segundo encontro:

  • Exercícios – produção do grupo

  • O haicai no Japão

  • A poética do haicai

  • A escola de Bashô

  • O haicai de Issa



Terceiro encontro:

  • Exercícios – produção do grupo

  • A técnica do haicai

  • Objetividade, palavra de estação, justaposição

  • O vocabulário da poética do haicai

  • Haicai encadeado

  • Haicai e diários

  • Haicai e imagem




Sobre o mediador:

Paulo Franchetti nasceu em Matão (SP) em 1954. Doutorou-se pela Universidade de São Paulo em 1992 e desde 1986 foi professor de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Campinas. Aposentou-se em 2015. Atualmente é Professor Sênior da Unicamp e pesquisador categoria 1B do CNPq.

Publicou, no Brasil, entre outros livros, os ensaios Alguns aspectos da teoria da poesia concreta (4ª Ed. 2012), Nostalgia, exílio e melancolia - leituras de Camilo Pessanha (2001), Estudos de literatura brasileira e portuguesa (2007), Crise em crise – notas sobre poesia e crítica no Brasil contemporâneo (2021), Sobre o ensino de literatura (2022), Editoras universitárias para quê? (2024) e organizou o volume Haikai – antologia e história (4ª ed. 2012). Preparou, para a Ateliê Editorial, edições comentadas, precedidas de longo ensaio sobre a estrutura e características de cada obra, bem como de uma análise da tradição interpretativa, de O Primo Basílio (1998), Iracema (2007), A cidade e as serras (2007), Dom Casmurro (2008), Clepsidra (2009), O cortiço (2011), Esaú e Jacó (2023), Memórias de Marta (2025) e Tarde (2025)

Em Portugal, publicou a edição crítica da Clepsydra, de Camilo Pessanha (1995); a antologia As aves que aqui gorjeiam - a poesia do Romantismo ao Simbolismo (2005) e o ensaio O essencial sobre Camilo Pessanha (2008).

É também autor da novela O sangue dos dias transparentes (2003), das coletâneas de haicais Oeste/Nishi (2008) e Toques (2020), do livro de sátiras Escarnho (2009) e dos livros de poemas Memória futura (2010) e Deste lugar (2012).

De maio de 2002 a maio de 2013, dirigiu a Editora da Unicamp. 



Contato:

Instagram: @paulo.franchetti E-mail: paulofranchetti@me.com Blog sobre haicai: www.paulofranchetti.wordpress.com Blog sobre literatura e cultura: www.paulofranchetti.blogspot.com






Bibliografias: 

(10% de desconto nas compras dos livros na Candeeiro)

Paulo Franchetti e Elza Doi. Haikai – antologia e história. Campinas, Editora da Unicamp, 2012. (Neste livro, além do corpo principal os anexos sobre a história do haicai no Brasil e sobre o haicai de Paulo Leminski)


R. H. BLYTH. A history of haiku. Tóquio, The Hokuseido Press, 1963-1964.

R. H. BLYTH. Haiku (4 vol.), Tóquio, The Hokuseido Press, 1971-1973.

H. de CAMPOS (org.). Ideograma. São Paulo, Cultrix, 1977.

R. M. GONÇALVES. (org.). Textos budistas e zen-budistas. São Paulo, Cultrix, 1976.

O. PAZ. “A poesia de Matsuo Bashô” e “A tradição do haiku”, in Signos em rotação. São Paulo, Perspectiva, 1972.

D. T. SUZUKI. Zen and Japanese Culture. Princeton, Princeton University Press, 1973.


A. WATTS. O Budismo Zen. Lisboa, Editorial Presença, 1975,





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